sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Lana Del Rey para Vogue Australiana

Dona de um estilo muito original, a cantora Lana Del Rey é a capa da revista Vogue Austrália do mês de outubro.






Confira na matéria "Uma estrela indecisa" as fotos e entrevista da cantora:

 A cantora Lana Del Rey transformou uma juventude perdida em uma crônica de amor e luxúria e agora está em busca de novos rumos, como descobriu Anna Johnson. Fotos por Nicole Bentley.

A diferença entre imagem e realidade é profunda. Na câmera, Lana Del Rey é remota como uma paisagem no Ártico. Seus olhos apresentam cílios postiços sedosos, a pele brilha como a luz do luar e, quando ela inclina sua cabeça, parece que a Terra se moveu de seu eixo. Em Vestida como uma mulher sedutora de uma cidade pequena, como Veronica Lake ou Jackie O. No palco, cantando com sua voz suave e aventureira, ela é igualmente enigmática. 

Esperava que, ao conhecer Del Rey, ela soprasse fumaça de cigarro na minha cara e desviasse o olhar para o horizonte como uma diva gelada em um filme de Andy Warhol: Bufante, delineador e tudo mais. Mas ela não fez isso.


No dia em que fizemos a  nossa entrevista, ela silenciou os críticos com uma performance elétrica no Enmore Theatre, em Sidney, Austrália. Tinha sido anunciada como a estrela da nova campanha da H&M. E Lana conseguiu juntar mais críticas que toda a obra de Madonna em apenas alguns meses. Algumas críticas de seu álbum de estreia foram, como ela mesma diz, "malvadas". Depois que seu vídeo amador de Video Games se espalhou no final de 2011, as vendas do álbum e as críticas vieram rapidamente. Poucas pessoas pareciam acreditar que se pode parecer uma modelo de Bruce Weber e escrever, cantar... e dirigir.



Escolhida em um sofá com uma almofada de seda debaixo de seu punho delicado em uma suite de hotel cheia de apliques e pasteis comidos pela metade, Del Rey é direta e conta, relaxadamente, cotos sobre sua vida, suas paixões e o conteúdo do seu armário. Ela nasceu Elizabth Grant, a mais velha de três irmãos, há 27 anos, na cidade de Nova York, e foi criada na rural e calma Lake Placid. Longe, e de classe média. Quando tinha 15 anos, Lizzy era uma rebelde em um internato em Connecticut, bebendo muito e, como ela diz, "faminta para ter todas as experiências que todos já haviam tido... correndo, queimando, terrível, terrível...oh", ela adiciona , om um suspiro, "terrível". Deus, talvez os caras tatuados em carros velozes tenham sido reais.




E então, aos 18 anos, a cantora mudou seu nome e parou de beber de vez, de dedicando totalmente a escrever e à música. Para a jovem estrela, esse não é um mero detalhe, mas sim um momento definitivo para deu destino. Estar sóbria nos anos que as garotas estão em cima de salto-alto quebrados fez de Lana uma misteriosa observadora de sua própria infância. O que faz sua música sertão tocada é sua nostalgia profunda, e o que a faz estranha é que ela canta sobre sua adolescência, mas não como uma heroína. Mas Del Rey é tão novelesca quanto incrível. Tanto que cita muito Nabokov e tem seu nome (junto com o de Walt Whitman) tatuado em elegantes letras em seu punho.



"Minhas referencias a Nabokov estão em todos os lugares do álbum. Eu não acredito que um escritor tão belo quanto ele tenha existido: o jeito que ele começa Lolita, o jeito que ele descreve uma sala iluminada pela luz do sol, e eu concordo com ele todas as vezes que descreve partículas de poeira e lábios vermelhos como cereja, arrepios e peles macias. Ele me inspira a nunca ser menos que a melhor e mais visual escritora que eu puder ser."

Moda não foi central no que ela chama de seu "mundo interior texturizado". Ela é formada em metafísica na Fordham University, se lembra d usar jaqueta marinheira, jeans e um laço no cabelo todos os dias. É uma imagem difícil de imaginar, levando em conta o visual atual dela. Bem chique, em um vestido curto diurno,com um bracelete de diamantes, um pullover de cashmere e descalça, ela ri da memória da época que não tinha estilo.  "Eu nunca vesti nada! Eu nunca me expressei através da moda. Eu amava flores no cabelo, amava caras que usavam couro, mas eu não era criativa... Desde os 7 anos eu tinha gostos específicos que nunca mudaram. Eu amava vestir branco,  pele velha e ouro. É engraçado, porque agora pessoas da moda vieram ao meu socorro enquanto outras pessoas disseram que não gostaram do meu álbum. Foi uma surpresa, porque eu nunca fui assim."

Famosa por seu ruivo Rapunzel, antes de ser um ícone da moda, a cantora tinha cabelos platinados e um visual que podia ser descrito como Marilyn Monroe vai as lojas Gap. Mas foi nessa mesma grife de Williamsburg, no Brooklyn, que a moda pegou em bandas indie e em cantoras. Foi em Nova York que ela fez suas demos, se apaixonou e fez trabalhos estranhos como pintar casas e fazer mudanças. Ela ocupava seu tempo cantando em bares, gravando seu primeiro álbum e assistindo filmes antigos, enquanto vivia em um parque de trailers nos arredores da cidade por 18 meses. " Todas as coisas que eu achava que aconteceriam em Nova York aconteceram para mim em Los Angeles. Nova York é difícil, difícil pra cacete."




Durante esses anos selvagens, a cantora, como não sabem seus críticos, trabalhou em reabilitação de drogados, alcoólatras e desabrigados, fatos que a levaram à humildade. Ela está cercada de facilidades, mas não age como uma diva. Na verdade ela mata a maioria dos clichês sobre beleza. Não é nada rock-star fazer reabilitação antes de ser famoso. Com suas mãos delicadas pousadas em seu colo, ela reflete calmamente: "Eu me sinto viva há tanto, tanto tempo. Quando eu costumava beber, essa era a minha paixão. Eu só gostava disso. Desisti disso há uma década e, quando você desiste das coisas que estão mais perto de você, tem de se tornar responsável. Quando parei de beber decidi que viveria 100% honestamente, sem mentir, sempre vivendo corretamente, fazendo as coisas certas. E, para fazer isso, você tem de crescer muito rapidamente. Não tenho filtros. Se eu estou assustada ou me sinto estranha,ou alguém na família está morrendo, não tem alívio. É um jeito diferente de viver."

A cantora admite ter medo dos palcos: " Eu amo criar as músicas - me sinto em casa- mas, quando vou ao palco, não estou no meu elemento. Às vezes me ajoelho porque estou tremendo e toco o público porque não sei o que fazer. Mas o legal dos fãs e que eles se sentem mal por mim, e me dão bichinhos de pelúcia!" Essa vulnerabilidade contrasta com sua personalidade que aparece nas telas.

E então vem o sexo. A pimenta as vezes vem em maior quantidade que o açúcar nas músicas de Lana. Com ela sentada no sofá falando tão calmamente, parece nada educado perguntar por que muitas de suas músicas  são sobre os homens sendo chefes, deixando ela no chão, beijando forte antes de sair fora. É uma ironia pós-feminista essa dominação retro macho-alfa? A cantora lança um olhar sem piscar: " Não tem nada irônico aí." Depois de uma pausa: " Não é sobre submissão de uma forma negativa, é sobre deixar alguém tomar conta de você, e eu amo esse sentimento porque estou no comando de tudo que faço na minha carreira. Gosto da ideia de alguém vir e me fazer sentir que eu não tenho que fazer tudo."

Para Del Rey, amor, sexualidade e emoção são onde a liberdade mora. Sem entrar em detalhes, ela deixa claro que o dever nunca está longe: "Eu tomei conta de pessoas a minha volta durante toda a minha vida... Eu fazia parte da minha família como todos os outros, mas como mais velha, você acaba achando o seu papel." Esse pensamento, vindo de uma pop star parece quase excêntrico. 




Então eu pergunto a ela: Como é ser famosa? Ela ri como se eu estivesse falando de outra pessoa. "Nos últimos 3 anos eu viajei para cidades diferentes a cada 40 horas. Eu não vou para casa há algum tempo." Ela coloca tudo o que ama em apenas uma mala  e,como uma forma de se retratar, me deixa olhar as roupas que vá vi em fotos de paparazzi. Segurando uma peça sem alça ela ri e diz: Eu tenho esses sutiãs gigantes  que eu uso para ter formas no palco." Vejo tênis e sapatilhas bem menininha. "Eu uso muitas camisas brancas e azuis da Brooks Brothers s shorts quando estou em Los Angeles, e uso esse vestido de algodão todo dia quando não tem ninguém olhando. Acho que é da Topshop. Tenho que dormir sozinha todas as noites, então tenho essa pele velha da Escócia." 

Com os ombros quadrados e quadris estreitos, a figura dela é impecável, apesar de afirmar que não pratica esportes e come espaguete e bolo de chocolate "todo dia, desde que tinha 7 anos." Claramente é criatividade pura que queima essas calorias, enquanto ela cria os temas de seus ensaios fotográficos e vídeos. Muitos aspectos da vida da pop star parecem cinematográficos, desde seus cabelos alto até o fato de que ela escreve todas as suas músicas no Chateau Marmont. Como uma estrela de um filme mudo, ela tem residência permanente no famoso hotel de Hollywood porque, como ela diz, "é o único lugar que restou!" O Marmont é uma fusão de decoração glamour antiga e rock mas, diferentemente de Jim Morrisson, ela não dançará na janela da Sunset Boulevard tão cedo. É mais fácil encontra-la em sua mesa, escrevendo. Filmes, não o panteão do pop, é para onde a sensível cantora está se dirigindo, porque fazer turnês é difícil. Possivelmente porque imagem e cabelos perfeitos estão "saindo do controle" e, definitivamente, porque a música (e não a performance e a fama) é a sua primeira paixão.


O projeto pelo qual ela está mais animada no momento é a trilha sonora de um filme. No final da entrevista ela toca pra mim uma música na qual está trabalhando em seu Mac, que tem a tela meio quebrada. Primeiro vem uma voz solitária, cantando as palavras de sua própria melodia. Enquanto ouvimos, ela canta junto. O som de sua voz nas cordas é tão etéreo que me faz querer chorar.




Em uma entrevista anterior, a cantora deu a dica de que não queria continuar fazendo hits  e de que o Born to Die estava mais para um resumo do que para um primeiro capítulo. Talvez seus fãs não queiram encarar mas essa estrela está indecisa entre honrar seu dom para o glamour e ser a pensadora sozinha com palavras e melodias.

"Eu disse tudo que precisava antes de escrever esse disco. Eu nem falo tanto assim. O que falei em entrevistas é mais do que falei em anos. Quando estava começando, queria escrever para filmes e é isso que estou fazendo agora. Estou muito feliz. Espero entrar na produção de filmes e ficar ali. Será minha zona de conforto. Eu queria ficar em apenas um lugar por um bom tempo."

Nesse mês, esse lugar é a suite no Chateau Marmont, com sua porta trancada e livros jogados em cima dela. Mas, quando ela vai embora, não dá para não torcer por ela, de maneiras estranhas. Comendo seu bolo de chocolate e vestindo nada além de seu casaco de pele vintage.







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